Algo
que não devemos jamais deixar morrer em nosso espírito, é aquela criança que um
dia fomos, e que existia em nosso corpo.
Era uma criança muito
feliz, que pulava, ria e adorava brincar com tudo, jamais querendo se desfazer
de seus brinquedos velhos.
Quanta coisa fizemos em nossa infância, e que esquecemos depois, como pular amarelinha, rodar pião, voltar pra casa bem devagar em dias de chuva, chapinhando nas poças d'água, correr feito doido pelas calçadas, tocando
Quanta coisa fizemos em nossa infância, e que esquecemos depois, como pular amarelinha, rodar pião, voltar pra casa bem devagar em dias de chuva, chapinhando nas poças d'água, correr feito doido pelas calçadas, tocando
campainhas e trepando em árvores. Como era gostoso
roubar as jabuticabeiras dos vizinhos, e quando queria comer os doces que meu
pai não queria comprar "para não estragar os dentes", roubava chuchu
na horta do "seu" Julio, e ia troca-los por doces na venda do
"seu" Manoel, que topava a troca porque não gostava do Julio...
Vibrava quando ganhava
brinquedos novos. Adorava brincar com tampinhas, soldadinhos de chumbo, caminhãozinho
de madeira, bolinha de gude.
Adorava brincar de médico,
"examinando" as meninas... Sonhava ser médico só para poder toca-las
à vontade... Ainda bem que não fui... Amava de paixão
jogar futebol de botão. Meu tricolor ganhava todas.Não via a hora de chegar as
datas especiais. Na Páscoa, entupia-me de chocolates, e minhas irmãs adoravam
isso, porque depois iam espremer minhas
espinhas...E no Natal, escrevia cartas e mais cartas para Papai Noel. E que
grande frustração naquele ano de crise financeira, quando o par de patins
pedido, virou uma bola de futebol.
Encantava-me quando tinha
circo. Adorava os trapezistas e os palhaços. E quando surgiam as feras, sonhava
com safáris na África. (e não é que consegui?).Essa criança não devemos
deixar morrer jamais, devemos conserva-la dentro de nós, e passar sua imagem
para nossos filhos e netos, ensinando que não devem deixar o adulto que vai
aparecer sufocar esse espírito alegre e meio rebelde que toda criança tem. Esse
inconformismo com certas regras que os adultos
impõem, bitolando a vida das crianças.
Se ela tentar fugir,
devemos procura-la. Se em determinada fase de nossa vida a perdermos de vista,
devemos dela nos lembrar e ir busca-la lá naquele poço onde a jogamos, e
resgata-la, porque a idosidade não deixa de ser uma volta ao passado. E
podemos esquecer certas responsabilidades que nossa "adulticidade"
nos trouxe. Podemos esquecer um pouco certas "normas de conduta", e
ser criança novamente. Sentir outra vez a alegria de viver, ainda que a vida
nos tolha um pouco os movimentos físicos, mas nossa alma jamais deverá ser
tolhida.
Não devemos ter vergonha de
ser feliz. De sorrir para um estranho. De sentir que aquela criança que não
tinha certos preconceitos está viva e bem viva em nossa alma.
E se nosso físico não nos
permite pular corda, jogar futebol, brincar de "uma na mula",
deixemos que nossa alma o faça, e nos sentiremos igualmente felizes.
Para não deixar morrer essa
criança que todos temos dentro de nós, deixemo-la sair, deixemo-la sonhar,
empinar papagaios porque isso não custa nada, e faz um bem enorme, chega a ser
medida preventiva contra estresse, enfartes e colesterol alto.
Com o pensamento em filhos,
netos e bisnetos, vamos festejar o dia da Criança de igual para igual, pois,
sem duvida este será UM LINDO DIA.
Marcial Salaverry
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